Beijos Blues Poesia
Só não se perca ao entrar, no meu infinito particular. Em alguns instantes, sou pequenina e também gigante ♭♪
terça-feira, agosto 19, 2014
Desastre de uma idéia
desastre de uma idéia
só o durante dura
aquilo que o dia adiante adia
estranhas formas assume a vida
quando eu como tudo que me convida
e coisa alguma me sacia
formas estranhas assume a fome
quando o dia é desordem
e meu sonho dorme
fome da china fome da índia
fome que ainda não tomou cor
essa fúria que quer
seja lá o que flor
sábado, março 15, 2014
Mundo Grande
Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem… sem que ele estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo…
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.
Carlos Drummond de Andrade
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem… sem que ele estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo…
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, janeiro 17, 2014
Batata quente
Se eu te entregasse agora meu amor
aceso como ele está,
como ele está, pesado,
você o trocaria rapidamente de mão,
você o guardaria um pouco na esquerda,
um pouco na direita,
por quanto tempo antes de o passar adiante?
Ana Martins
Desejo
Sou alérgica ao desejo
como ao mofo, ao mar,
aos gatos, ao leite,
aos lugares fechados, e certas flores.
Sou alérgica ao desejo –
doem-me olhos,
incham-me as pernas,
o sexo arde
como uma caixa de abelhas
lacrada.
O desejo acende-me
como uma casa incendiada;
o desejo me deixa
sem mais nada.
Ana Martins
sexta-feira, outubro 25, 2013
terça-feira, junho 25, 2013
quarta-feira, junho 05, 2013
Às Vezes com Alguém que Amo
Às vezes com alguém que amo, me encho de fúria, pelo medo de extravasar amor sem retorno;
Mas agora penso não haver amor sem retorno – o pagamento é certo, de um jeito ou de outro;
(Eu amei certa pessoa ardentemente, e meu amor não teve retorno;
No entanto, disso escrevi estas canções.)
Sometimes with One I Love
Sometimes with one I love, I fill myself with rage, for fear I effuse unreturn’d love;
But now I think there is no unreturn’d love—the pay is certain, one way or another;
(I loved a certain person ardently, and my love was not return’d;
Yet out of that, I have written these songs.)
Walt Whitman
terça-feira, maio 14, 2013
quinta-feira, maio 09, 2013
Mundo das Ideias
Lá no mundo das ideias,
ela parece próxima
Lá no mundo das ideias,
Platão me diz: isso dá prosa! [Cadê a rima? rs]
Lá no mundo das ideias,
o distante é mais bonito,
o mundo? não é aflito
Lá no mundo das ideias,
eu sinto o perfume dela. (de perto)
Lá no mundo...das ideias,
eu a beijo, e como num lampejo,
ela enfim, realiza seu desejo (sinto a respiração ofegante)
Mas este, é apenas o meu desejo,
o mundo das ideias, e Platão,
não são tangíveis.
Assim como a moça,
de modos, nada plausíveis.
ela parece próxima
Lá no mundo das ideias,
Platão me diz: isso dá prosa! [Cadê a rima? rs]
Lá no mundo das ideias,
o distante é mais bonito,
o mundo? não é aflito
Lá no mundo das ideias,
eu sinto o perfume dela. (de perto)
Lá no mundo...das ideias,
eu a beijo, e como num lampejo,
ela enfim, realiza seu desejo (sinto a respiração ofegante)
Mas este, é apenas o meu desejo,
o mundo das ideias, e Platão,
não são tangíveis.
Assim como a moça,
de modos, nada plausíveis.
segunda-feira, maio 06, 2013
O Medo
Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.
E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.
Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.
Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.
Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.
Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.
Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?
Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas
do homem só.
Ajudai-nos,Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.
E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.
Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.
Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.
Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.
Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.
Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?
Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.
Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.
E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.
O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.
Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.
Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,
eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.
Carlos Drummond de Andrade
(A Rosa do Povo, 1945)
domingo, maio 05, 2013
domingo, março 24, 2013
sexta-feira, março 22, 2013
"Toda paixão envolve o triunfo da esperança sobre o autoconhecimento.
Nós nos apaixonamos esperando não encontrar no outro o que sabemos estar
em nós mesmos - toda a covardia, fraqueza, preguiça, desonestidade,
comprometimento e estupidez bruta. Jogamos um laço de amor sobre o
escolhido, e decidimos que tudo o que cair dentro de algum modo estará
livre de nossos defeitos e, portanto, digno de ser amado. Localizamos no
outro uma perfeição que nos ilude dentro de nós mesmos, e por meio da
união com o amado esperamos de alguma forma manter (contra evidências de
todo o autoconhecimento) uma fé precária na espécie."
Alain de Botton - Ensaios de Amor
Alain de Botton - Ensaios de Amor
sábado, fevereiro 23, 2013
POEMA DE AMOR
Este é um poema de amor
por isso nele
não poderá faltar
a menção a alguma
flor
e por isso digo
rosa
ou lírio
ou simplesmente
rubro,
rubro
e espero as páginas
imantarem-se
de vermelho
por isso digo
febre
e noite
e fumo
para dizer
ansiedade e
desperdício de sêmen e de horas
e cigarros à janela
acesos como estrelas
com a noite numa ponta
e nós
consumindo-nos
na outra
este é
definitivamente
um poema de amor
por isso nele
devo dizer casa
e olhos
e neblina
e não devo dizer
que o amor é uma doença
uma doença do pensamento
uma desordem que põe tudo o mais
em desordem
uma perda que põe tudo
a perder
e porque é
um poema de amor
sob pena de ser devolvido
como uma carta sem destinatário
(e todos sabem que não se deve
brincar com os correios)
este poema deve dirigir-se
a alguém
porque a alguém o amor deve ferir
com sua pata negra
e então
à falta de outro
este poema
eu o dedico (mas não tema,
o tempo
também nisso
porá termo)
a você.
Ana Martins Marques
Este é um poema de amor
por isso nele
não poderá faltar
a menção a alguma
flor
e por isso digo
rosa
ou lírio
ou simplesmente
rubro,
rubro
e espero as páginas
imantarem-se
de vermelho
por isso digo
febre
e noite
e fumo
para dizer
ansiedade e
desperdício de sêmen e de horas
e cigarros à janela
acesos como estrelas
com a noite numa ponta
e nós
consumindo-nos
na outra
este é
definitivamente
um poema de amor
por isso nele
devo dizer casa
e olhos
e neblina
e não devo dizer
que o amor é uma doença
uma doença do pensamento
uma desordem que põe tudo o mais
em desordem
uma perda que põe tudo
a perder
e porque é
um poema de amor
sob pena de ser devolvido
como uma carta sem destinatário
(e todos sabem que não se deve
brincar com os correios)
este poema deve dirigir-se
a alguém
porque a alguém o amor deve ferir
com sua pata negra
e então
à falta de outro
este poema
eu o dedico (mas não tema,
o tempo
também nisso
porá termo)
a você.
Ana Martins Marques
sexta-feira, janeiro 25, 2013
terça-feira, outubro 16, 2012
RUMO AO SUMO
Disfarça, tem gente olhando,
Uns, olham pro alto,
cometas, luas, galáxias.
Outros, olham de banda,
lunetas, luares, sintaxes.
De frente ou de lado,
sempre tem gente olhando,
olhando ou sendo olhado.
Outros olham para baixo,
procurando algum vestígio
do tempo que a gente acha,
em busca do espaço perdido.
Raros olham para dentro,
já que dentro não tem nada.
Apenas um peso imenso,
a alma, esse conto de fada.
Leminski.
quinta-feira, agosto 23, 2012
Estupor
esse súbito não ter
esse estúpido querer
que me leva a duvidar
quando eu devia crer
esse sentir-se cair
quando não existe lugar
aonde se possa ir
esse pegar ou largar
essa poesia vulgar
que não me deixa mentir
Paulo Leminski
terça-feira, junho 12, 2012
Nós saberemos
Um espaço, e mesmo nos melhores momentos
E nos melhores tempos
Nós saberemos
Nós saberemos mais que nunca
Há um lugar no coração que nunca será preenchido
E nós iremos esperar e esperar
Nesse lugar."
Bukowski
Depois dessa, um drink pufavô! rs
Durante um tempo fiquei numa casa
"Nunca me senti só. Durante um tempo fiquei numa casa, deprimido (...), mas nunca pensei que uma pessoa podia entrar na casa e curar-me. Nem várias pessoas. A solidão não é coisa que me incomoda porque sempre tive esse terrível desejo de estar só."
Charles Bukowski
sábado, junho 09, 2012
A IDADE DO CÉU - MOSKA
Não somos mais
Que uma gota de luz
Uma estrela que cai
Uma fagulha tão só
Na idade do céu...
Não somos
O que queríamos ser
Somos um breve pulsar
Em um silêncio antigo
Com a idade do céu...
Calma!
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu...
sexta-feira, maio 25, 2012
Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico
mudo quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás
do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto
e sofro antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais
difícil de lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais
fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu
sumiço é covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico,
sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco
e sapiência, pareço desinteressado, mas sumi
para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais
por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência.
Martha Medeiros
mudo quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás
do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto
e sofro antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais
difícil de lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais
fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu
sumiço é covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico,
sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco
e sapiência, pareço desinteressado, mas sumi
para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais
por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência.
Martha Medeiros
é como uma bêbada que atravesso os dias
é como uma bêbada que atravesso os dias
por intuição do caminho
as reações que em outros são previsíveis
a mim acontecem de inopino
não me pertenço
a verdade em mim são os detalhes da mentira
meus pormenores, ácidos
o que não lateja me entorpece
consumir-se é vício
legalizem-me já
Martha Medeiros
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