Fabrício Carpinejar, em entrevista a revista Língua
Portuguesa.
São processos distintos. Se bem que Chico Buarque confundiu essa distinção entre letristas e poetas... [risos]. Há letras dele que sobrevivem sem a melodia da canção. E também Caetano Veloso, Cartola, Noel Rosa... São casos isolados, e nem sempre acertaram, mas não podemos fundamentar por exceção. A letra de música não precisa se explicar, se ampara na própria melodia. Pois melodia já é letra; já sugere se é alegre ou triste. A literatura, não: mantém muito mais a ambiguidade. A letra não quer que tu não a entendas. Penso assim: quando o silêncio é muito forte, é literatura. Na música, o silêncio é mais curto. Na poesia, a melodia é a palavra. A música tem um sentido mais comunicativo, mais generoso. Não é preciso entrar nela para entendê-la. Já na poesia, tem de entrar. Não há como olhar de fora. A diferença é grande.
Sobre a Poesia.
(...) Ela faz a gente não se ajudar. Faz nadar melhor no desespero. É o avesso da autoajuda, que quer consolar sem fazer pensar muito. A poesia faz mergulhar na dúvida. E encontrar o riso no choro. É a única maneira de sair do choro, aliás (...)