Mais uma de amor
Que algumas pessoas não acreditem que o homem esteve
mesmo na lua, dá até pra entender, mas tem gente que
não acredita em amor, e isso é imperdoável. Podemos não
acreditar no que nossos olhos vêem, mas não podemos
desacreditar no que sentimos. Você já ficou com a boca
seca diante de uma pessoa? Já teve receio de ela estar
ouvindo as batidas do seu coração? Bem, isso tudo não é
prova de amor, apenas de ansiedade. Amor é outra coisa.
Amor é quando você acha que a pessoa com quem você se
relacionava era egoísta, possessiva e infantilóide e isso não
reduz em nada a sua saudade, não impede que a coisa que
você mais gostaria neste instante é de estar tocando os
cabelos daquela egoísta, possessiva e infantilóide.
Amor é quando você não compreende direito algumas
coisas, mesmo tendo o QI mais elevado da turma, mesmo
dominando o pensamento de Sócrates, Plutão e Nietzche.
Perguntas simples ficam sem resposta, como por exemplo:
como é que eu, sendo tão boa gente, tão honesto e com
um coração tão grande, não consigo fazê-la perceber que
ela seria a pessoa mais feliz do mundo ao meu lado?
Amor é quando você passa dias sem ver quem você ama,
depois passam-se meses, e aí você conhece outra pessoa
e passam-se décadas, e você já nem lembra mais do
passado, e um dia qualquer de um ano qualquer você se
olha no espelho e pensa: como é que eu consegui enganar
a mim mesmo durante todo esse tempo?
Amor é quando você sente que seria capaz de amarrar o
cadarço de um tênis com uma única mão ou de fazer a
chuva parar só com a força do pensamento caso a pessoa
que você ama lhe mandasse um sim deste tamanho.
Amor é quando você sabe tintim por tintim as razões que
impedem o seu relacionamento de dar certo, é quando você
tem certeza de que seriam muito infelizes juntos, é quando
você não tem a menor esperança de um milagre acontecer,
e essa sensatez toda não impede de fazê-lo chorar
escondido quando ouve uma música careta que lembra os
seus 14 anos, quando você acreditava em milagres.
Tudo isso pode parecer uma grande dor, mas é uma grande
dádiva, porque a existência do amor está toda hora sendo
lembrada. Dor é quando a gente está numa relação tão
fácil, tão automática, tão prática e funcional que a gente até
esquece que também é amor.
Martha Medeiros
Só não se perca ao entrar, no meu infinito particular. Em alguns instantes, sou pequenina e também gigante ♭♪
quarta-feira, julho 29, 2009
A dor que dói mais
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
Martha Medeiros
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
Martha Medeiros
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