sexta-feira, junho 12, 2009

Transplante de amor

Gastrite é uma inflamação do estômago. Apendicite é uma inflamação no apêndice. Otite é uma inflamação dos ouvidos. Paixonite é uma inflamação do quê? Do coração.
Cada órgão do nosso corpo tem uma função vital e precisa estar 100% em condições. Ao coração, coube a função de bombear sangue para o resto do corpo, ,mas é nele que se depositam também nossos mais nobres sentimentos. Qual é o órgão responsável pela saudade, pela adoração? Quem palpita quem sofre quem dispara? O próprio.
Foi pensando nisso que me ocorreu o seguinte: se alguém está com o coração dilacerado nos dois sentidos, biológico e emocional, e por ordens médicas precisa de um novo, o paciente irá se curar da dor de amor ao receber o órgão transplantado?
Façamos de conta que sim. Você entrou no hospital com o coração em frangalhos, literalmente. Além de apaixonado por alguém que não lhe dá a mínima, você está com as artérias obstruídas e os batimentos devagar quase parando. A vida se esvai, mas localizam um doador compatível: já para a mesa de cirurgia.
Horas depois, você acorda. Coração novo. Tum-tum, Tum-tum, Tum-tum. Um espetáculo. O médico lhe dá uma sobrevida de cem anos. Nada mal. Visitas entram e saem do quarto, Até que anunciam o Jorge. Que Jorge? O Jorge, minha filha, o homem que você sempre amou. Eu????
Você não reconhece o Jorge. Acha ele meio baixinho. Um tom de voz estridente. Usa uma camisa cor – de laranja que não lhe cai bem. Mas foi você mesma que deu a ele de aniversário, minha filha. Eu????
Seu coração ignorou o tal Jorge. O mesmo Jorge que quase lhe levou à loucura, o mesmo Jorge que fez você passar noites insones, que fez você encher uma piscina olímpica de lágrimas. Em compensação, aquele enfermeiro ali é bem gracinha. Tem um sorriso cativante. E uma mão que é uma pluma, você nem sentiu a aplicação da anestesia. Bacana este cara. Quem é? O namorado da menina a quem pertencia seu coração. Tum-tum, Tum-tum, Tum-tum.
Transplantes de amor, Garanto que fariam muito mais sucesso que a safena.

Martha Medeiros
Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...


Alphonsus de Guimarães