sábado, dezembro 10, 2011

O amor é um cão dos diabos

Cerveja




não sei quantas garrafas de cerveja
consumi esperando que as coisas
melhorassem.
não sei quanto vinho e uísque
e cerveja
principalmente cerveja
consumi depois
de rompimentos com mulheres
esperando o telefone tocar
esperando o som dos passos,
e o telefone nunca toca
antes que seja tarde demais
e os passos nunca chegam
antes que seja tarde demais.
quando meu estômago já está saindo
pela boca
elas chegam frescas como flores de primavera:
"mas que diabos você está fazendo?
vai levar três dias antes que você possa me comer!"
a mulher é durável
vive sete anos e meio a mais que o homem,
bebe pouca cerveja porque sabe como ela é ruim para
a aparência.

enquanto enlouquecemos
elas saem
dançam e riem
com caubóis cheios de tesão.

bem, há a cerveja,
sacos e mais sacos de garrafas vazias de cerveja
e quando você pega uma
as garrafas caem através do fundo úmido
do saco de papel
rolando
tilintando
cuspindo cinza molhada
e cerveja choca,
ou então os sacos caem às 4 horas
da manhã
produzindo o único som em sua vida.

cerveja
rios e mares de cerveja
cerveja, cerveja, cerveja.
o rádio toca canções de amor
enquanto o telefone permanece mudo
e as paredes seguem
paradas e estáticas
e a cerveja é tudo o que há.




Charles Bukowski
Ele (LFV) faz o simples sofisticado... 
AMO esse livro.

sexta-feira, dezembro 09, 2011

O corpo e a mente



O corpo e a mente
têm biografias separadas
cada um tem sua memória  própria,
seu próprio jogo de charadas.
Meu corpo tem lembranças
-cheiros, tiques, andanças-
que a mente não registrou
e o corpo não tem as marcas
de metade do que a mente passou.
(Pior que uma mente insana
num corpo sem muito assunto
é um corpo que já foi ao nirvana
sem que a mente tenha ido junto.)
Cada um tem um passado
do qual o outro não tem pista
(como um bilhete amassado)
e nem o Mahabharata
explica uma mente anarquista
num corpo socialdemocrata.
Compartilham bioplasmas
e o gosto por certas atrizes,
mas não tem os mesmos fantasmas
nem as mesmas cicatrizes.
Das duas, uma, gente:
ou toda mente é de outro corpo
-ou todo corpo mente.

Luis Fernando Verissimo

terça-feira, novembro 29, 2011

Drummond

"porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


Muita saudade da sua presença na minha vida.

sábado, novembro 19, 2011

O Gênio das Multidões




o que existe de falsidade, ódio, violência e absurdo na
pessoa mediana é suficiente para abastecer qualquer
exército em qualquer dia
e os melhores no assassinato são aqueles que pregam contra ele
e os melhores no ódio são aqueles que pregam o amor
e os melhores na guerra por fim são aqueles que pregam a paz

aqueles que pregam deus, precisam de deus
aqueles que pregam a paz não têm paz
aqueles que pregam o amor não têm amor

cuidado com os pregadores
cuidado com os sabe-tudo
cuidado com aqueles que estão sempre lendo livros
cuidado com aqueles que ou detestam a pobreza
ou têm orgulho dela
cuidado com aqueles que elogiam facilmente
porque precisam de elogios em troca
cuidado com aqueles que censuram facilmente
porque têm medo do que não conhecem
cuidado com aqueles que sempre procuram multidões
porque sozinhos não são nada

cuidado com o homem mediano, com a mulher mediana
cuidado com seu amor, seu amor é mediano
busca o mediano
mas existe gênio em seu ódio
há gênio suficiente em seu ódio para te matar
para matar qualquer um

não desejando a solidão
não entendendo a solidão
eles vão tentar destruir qualquer coisa
que seja diferente das que conhece.

não sendo capazes de criar arte
eles não entenderão arte
eles irão considerar seu fracasso como criadores

apenas como uma falha do mundo

não sendo capazes de amar completamente
eles acharão que o seu amor é incompleto
e então eles lhe odiarão
e seu ódio será perfeito
como o brilho de um diamante
como uma faca
como uma montanha
como um tigre
como erva daninha

sua mais perfeita arte

Charles Bukowski

domingo, outubro 02, 2011


111

Te agradeço a paciência e o tempo dedicado
Estiveste presente de acordo com tua disponibilidade
E foi presença sincera e suficiente
Agradeço também, porque é igualmente importante,
Todo o riso provocado, amostra de uma inteligência
  assombrosa
compartilhada a dois, tão pouca platéia para tamanho
  talento
obrigada pelo teu não egoísmo, pelo verbo no gerúndio
nada em particípio, tudo sendo construído
agradeço por teres surgido sem formato padronizado
sem valores catados na rua e adotados como se fossem
  próprios
teu jeito singular de pensar e lidar com o imprevisto
fez toda a diferença
obrigada por proporcionares a solidão necessária
um dia há de ser descoberto o segredo desta nossa união
agradeço a tolerância, a gentileza e o mistério
principalmente o mistério, que até hoje não decifro
nem devo, nem quero
é dele o mérito de ter nos tornado eternos

Martha Medeiros

domingo, setembro 25, 2011

Perder devagar
prefiro perder 
de uma vez
infelicidade a conta gotas
nem eu faço por merecer

sábado, setembro 24, 2011


“não dispa o meu amor
você pode encontrar um manequim;
não dispa um manequim
você pode encontrar
o meu amor.


ela há muito tempo
me esqueceu.


ela experimenta um novo
chapéu
e parece mais
coquete
do que nunca.


ela é uma
criança
e um manequin
e
é a morte.


não tenho como odiar
isso.


ela não faz
nada fora do
comum.


queria apenas que ela
fizesse.”

Charles Bukowski

sexta-feira, setembro 23, 2011




todas as mulheres
todos os beijos as
diferentes formas que amam e
falam e carecem.

suas orelhas todas elas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e
automóveis e ex-
maridos.

na maioria das vezes
as mulheres são muito
quentes elas me lembram
torrada com a manteiga
derretida
nela.

está estampado no
olhar: elas foram
tomadas elas foram
enganadas. eu nunca sei o que
fazer por
elas.


sou
um bom cozinheiro um bom
ouvinte
mas nunca aprendi a
dançar — eu estava ocupado
com coisas maiores.


mas eu apreciei suas variadas
camas
fumando cigarros
olhando para o
teto. não fui nocivo nem
desleal. apenas
um aprendiz.


eu sei que todas têm
pés e descalças elas andam pelo piso enquanto
eu olho suas modestas bundas no
escuro. sei que gostam de mim, algumas até
me amam
mas eu amo muito
poucas.


algumas me dão laranjas e vitaminas;
outras falam mansamente da
infância e pais e
paisagens; algumas são quase
loucas mas nenhuma delas deixa de fazer
sentido; algumas amam
bem, outras nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre são as
melhores em outras
coisas; cada uma tem seus limites como eu tenho
limites e nós aprendemos
cada qual
rapidamente.


todas as mulheres todas as
mulheres todos os
quartos
os tapetes as
fotos as
cortinas, é
algo como uma igreja
raramente se ouve
uma risada.


essas orelhas esses
braços esses
cotovelos esses olhos
olhando, o afeto
e a carência eu tenho
aguentado eu tenho
aguentado.

Charles Bukowski

terça-feira, setembro 13, 2011

 'Querida, quem te amou foi eu , não sou eu'
Mayra Corleonne


Fantástica essa frase, fantástica...

quarta-feira, setembro 07, 2011



Fabrício Carpinejar, em entrevista a revista Língua Portuguesa.


Você dá aula de formação a produtores e roqueiros. Como vê a diferença entre poesia e letra?

São processos distintos. Se bem que Chico Buarque confundiu essa distinção entre letristas e poetas... [risos]. Há letras dele que sobrevivem sem a melodia da canção. E também Caetano Veloso, Cartola, Noel Rosa... São casos isolados, e nem sempre acertaram, mas não podemos fundamentar por exceção. A letra de música não precisa se explicar, se ampara na própria melodia. Pois melodia já é letra; já sugere se é alegre ou triste. A literatura, não: mantém muito mais a ambiguidade. A letra não quer que tu não a entendas. Penso assim: quando o silêncio é muito forte, é literatura. Na música, o silêncio é mais curto. Na poesia, a melodia é a palavra. A música tem um sentido mais comunicativo, mais generoso. Não é preciso entrar nela para entendê-la. Já na poesia, tem de entrar. Não há como olhar de fora. A diferença é grande.

Sobre a Poesia.

(...) Ela faz a gente não se ajudar. Faz nadar melhor no desespero. É o avesso da autoajuda, que quer consolar sem fazer pensar muito. A poesia faz mergulhar na dúvida. E encontrar o riso no choro. É a única maneira de sair do choro, aliás (...)

sábado, setembro 03, 2011

Pensamentos desconexos...


Eu quero é mudar, ampliar
A seguir, pensamentos desconexos...

Assistindo a aulas como a da profª Adriana Seabra, e  ouvindo falar de Van Gogh, ahhhh que maravilhoso, eu sempre me achei meio estranha entre os meu amigos, exceto alguns... Mas num todo, sempre me achei em desconformidade. A forma como eu pensava. Gostar tanto de gente dita "louca", um tanto estranho. Van Gogh por exemplo, ninguém o alcançava, ele estava em desconformidade... Não estou me comparando a Van Gogh, pelo amor de Deus, mas tenho minhas angústias. 
---
Minha dificuldade de comunicação através da fala. Ai tenho que melhorar isso, grande problema. Permanecer bêbada não pode, porque bêbada, nossa senhora, outra pessoa. Uma outra grande angústia: Eu sou eu sóbria ou bêbada?
---
 Saber que tem algo maior no meu peito(e não são meus seios) e às vezes questionar se tem mesmo algo. Questionar se eu vou ter capacidade para lecionar, se essa coisa de achar que trabalhando com educação eu vou fazer minha parte no mundo, vou tirar algumas pessoas do ostracismo, assim como eu (acredito) ter sido salva por dois ou três professores que me influenciaram. Não sei, e aí me pergunto, o que uma coisa tem a ver com a outra? Ah foda-se, é meu blog eu posso escrever coisas sem sentido; tem sentindo pra mim.
Que coisa incrível isso aliás. “Às vezes o que eu vejo, quase ninguém vê” DE VERDADE.

(mudando e não mudando de assunto)

Acho que Freud explica essa atração por loucos, mas loucos do bem, os incompreendidos. Porque definitivamente não gosto de loucos do mal, tem gente que adora uma subversão, gosta de Mussolini, Hitler... Uns assassinos em série, pra Hollywood ver...
Gosto dos loucos porque gostaria de ser como eles. 
Isso explica a minha forma de me apaixonar.. Funciona assim: Gosto de gente diferente de mim, mas que seja tudo que eu gostaria de ser.
Logo...isso explica como parar de me apaixonar por esse tipo de gente. Me transformar(e continuar me transformando) de fato no que eu quero. E assim, paro de beber dessa fonte. Tudo não passa de uma miragem, uma construção da minha cabeça, alguém que eu recrio, mas quanto mais chego perto, mais reconheço que eu criei alguém, e ela talvez não seja o que eu gostaria de ser, talvez ela tenha fraquezas, defeitos, que eu não quero, ou não gosto de ter, o que não deixa de ser preciosismo da minha parte, porém faz parte da minha loucura, existencial. Ah estou tão filósofa, e nem bebi.

Bem, vou parar de escrever abruptamente, nem conclui o que achei que iria concluir, por agora minha inspiração acabou, (continuo rasa) continua no próximo episódio, vou dormir.

sábado, agosto 27, 2011

Fagulhas


Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria rir, chorar,
ou pelo menos sorrir
com a mesma leveza com que
os ares me beijavam.


Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça,
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando.


Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.


Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.


Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.


Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio.


Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las.


Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.


Ana Cristina César

Momento Poesia Marginal



A poesia marginal foi uma prática poética marcada pelo artesanal, por poetas que queriam se expressar livremente em época de ditadura, buscando caminhos alternativos para distribuir poesia e revelar novas vozes poéticas.

É um movimento cultural fundado nos anos 70, os poetas mais marcantes desta época foram Ana Cristina César, Paulo Leminski, Ricardo Carvalho Duarte (Chacal), Francisco Alvim e Cacaso. As poesias eram distribuídas em livretos artesanais mimeografados e grampeados, ou simplesmente dobrados.

Poetas, universitários e cabeludos eram caras que imprimiam no álcool do mimeógrafo as suas poesias originais. Foram poemas instigantes, carregados de coloquialidade e objetividade.

A poetisa Ana Cristina César além de escrever poemas também redigia para jornais, se suicidou aos 31 anos, em 1981. Cacaso faleceu em 1987, aos 43 anos, após uma parada cardíaca. Paulo Leminski, que adorava experimentar a linguagem dos poetas concretos, faleceu em 1989.

É importante enfatizar que não foi um movimento poético de características padronizadas, foi um momento de libertação dos termos e expressão livre num momento de repressão política nos fins da década de 60. A poesia foi levada para as ruas, praças e bares como alternativa de publicação, alternativa que estivesse longe do alvo da censura. Tudo era considerado suporte para a expressão e impressão das poesias, fosse um folheto, uma camiseta, xerox, apresentações em calçadas, etc.

Trecho de um poema sem título de Paulo Leminski :
“Eu hoje, acordei mais cedo
e, azul, tive uma idéia clara
só existe um segredo
tudo está na cara.”
Por Fernando Rebouças


Adorando, já conhecia um pouco e agora lendo pra valer os livros de Leminski e Ana Cristina César, por enquanto. ;)

Eu quero pensar ao apalpar
eu quero dizer ao conviver
eu quero partir ao repartir


Ana Cristina César

O QUE QUER DIZER



  O que quer dizer, diz.
Não fica fazendo
  o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
  coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
  Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
  um dia, vai ser feliz.


Paulo Leminski

quarta-feira, agosto 24, 2011

já me matei faz muito tempo


já me matei faz muito tempo 
me matei quando o tempo era escasso 
e o que havia entre o tempo e o espaço 
era o de sempre 
nunca mesmo o sempre passo 
morrer faz bem à vista e ao baço 
melhora o ritmo do pulso 
e clareia a alma 
morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma


Paulo Leminski

NO INSTANTE DO ENTANTO



diga minha poesia
e esqueça-me se for capaz
siga e me diga
quem ganhou aquela briga
entre o quanto e o tanto faz

Paulo Leminski

domingo, agosto 14, 2011

Se Deus, tal como Satanás, procura

As almas aliciar...porque deixa ao pecado

Esse caminho suave, essa fatal doçura

E faz do bem um fruto amargo e indesejado?


Mario Quintana, in Espelho Mágico

segunda-feira, agosto 08, 2011

domingo, agosto 07, 2011

Esses olhos brilhantes
Que eu vejo quase sempre
Essas linhas do rosto
Que eu gosto ardentemente
Esse jeito de amante
Esse ar de inteligente
Seu olhar tem um gosto
que eu quero mais de frente
Pena que não presta
especula arrogantemente
então só me resta
Ficar te olhando lentamente

Caroline Ferreira

sábado, julho 30, 2011

Igual a qualquer um - Leoni

Melhor que eu não te conte novidades,
Nem diga nada muito diferente,
Nem faça teorias sobre a gente,
Nem fale dessa angústia que me invade.

Melhor juntar palavras já testadas:
Amor, Saudade, Beijo, Despedida.
Um saco de figuras repetidas,
Tão gastas que já não te digam nada.

Pois só o que for extremamente fácil,
banal como as canções do rádio,
Replay de algum clichê, lugar-comum

E nunca retratar a nossa vida,
Vai te deixar feliz e comovida
E te fazer igual a qualquer um.

terça-feira, julho 26, 2011

Dois a Rodar - Ludov

Sem sair do lugar, sem saber
sem notar, vi meu pranto ceder
E era novidade chorar por você assim

Se quiser me trocar, devolver, se livrar,
basta não responder,
Não ligar se eu chorar assim sem porquê

Me deixa louco por saber que não estou
onde há pouco eu reinava, como num salão,
beijava-te a mão
e éramos dois a rodar, e rodar, e rodar

Mas se era só por sofrer pra cantar
pra sofrer por cantar
eu te entrego esta minha canção.
Eu te entrego esta minha canção.

Me deixa louco por saber que não estou
onde há pouco eu reinava, como num salão,
beijava-te a mão
e éramos dois a rodar, e rodar, e rodar








sexta-feira, julho 22, 2011

Martha Medeiros "falou" comigo!

O Chat tava meio complicado, mas dá pra entender.. ai, quase chorei. louca né, rs. Imagina Quando ver a mulher ao vivo!

domingo, julho 17, 2011

Van Gogh queria que seus quadros tivessem o efeito imediato e violento das coloridas gravuras japonesas, tão admiradas por ele. Gritava por uma arte livre de intelectualismo, que não chamasse a atenção somente dos ricos entendedores, mas desse alegria e consolo a toda criatura humana...
Usava formas e cores para exprimir o que sentia nas coisas. Não se importava muito com o que chamava de “realidade estereoscópica”, ou seja a reprodução de forma fotográfico da natureza...Queria que a sua pintura exprimisse o que sentia e, se a deformação pudesse ajudá-lo a atingir o objetivo, ele teria usado a deformação.
Ernst H. Gombrich

Texto retirado  do meu livro novo *-*  "Van Gogh, da Coleção Grandes Mestres"

A Noite estrelada (Ciprestes e Vila)


Em junho de 1989, Vincent Van Gogh estava no sanatório para doentes mentais em Saint-Rémy, no mosteiro medieval de Saint Paul de Mausole, a pouca distância da cidadezinha provençal. Ele decidira voluntariamente se curar naquele lugar solitário. A insônia o estimulou a olhar para fora de sua cela, para uma paisagem noturna imersa no silêncio e na escuridão, sob um fantástico céu estrelado. Ao lado do cipreste torto, que parece tentar desesperadamente se elevar até chegar perto do céu. Vênus, a estrela da manhã, brilha, luminosa, enquanto o longo perfil das colinas se expande com a primeira luz do amanhecer. Do outro lado da tela, a lua, brilhante como um sol noturno, explode em círculos, enquanto na torre do sino, lembrança das paisagens holandesas da infância sobreposta pela fantasia do artista à paisagem provençal, tem início um fantasmagórico motivo em serpentina, como se cometas em chamas ou meteoritos enlouquecidos estivessem prestes a cair na terra. A visão, na qual o pintor sem dúvida se inspirou, é deformada por uma passionalidade exasperada, de uma incandescente vontade de se comunicar com o infinito (...)


sexta-feira, julho 15, 2011

Desisti de esperar por alguém cuja a ausência me faz companhia


Martha Medeiros

terça-feira, julho 05, 2011

Eterno - Carlos Drummond

E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.

Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
a vida eterna,
o fogo eterno.

(Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie.)

— O que é eterno, Yayá Lindinha?
— Ingrato! é o amor que te tenho.

Eternalidade eternite eternaltivamente 
eternuávamos 
eternissíssimo

A cada instante se criam novas categorias do eterno.

Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma 
[força o resgata

é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e 
[passageiras as obras.
Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um 
[mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos 
[afundamos.
É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.
Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.

Mas eu não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma 
[essênciaou nem isso.
E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde 
[pousou uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como uma 
[esponja no caos
e entre oceanos de nada
gere um ritmo

quarta-feira, junho 29, 2011

A Chave - Bárbara Eugênia

E só porque eu quis casar
Você quis fugir
Machucou meu coração
Fui pra lá de mim
Me meti em cada situação
Que nem me lembra

Aah, aah!


Então resolvi fingir não causar mais comoção
E se era pra rir
Por que eu chorei então?
E se não era pra ser
Por que insistir então?
Mas se não era pra ser
Por que insistir então?

Depois de um tempo me recuperei
Levantei minha auto-estima
Resolvi sair por cima
Sem pensar que também errei



E quando eu quis sair
Você voltou
Apareceu de novo
Quando quase não havia mais você em mim
Você voltou
Quando enfim pensei que eu tava livre
Você voltou (...)



----------------------


#Vozgostosinha




>>  http://www.amusicoteca.com.br/?p=3267

domingo, junho 26, 2011

#paradagay



Dia de Parada 


Não é porque eu não sofro este tipo de preconceito, (não este, concreto...falado,) que eu não sou solidária as pessoas que sofrem este tipo de violência. Não sou ativista nem nada, não tenho o talento e a paciência, mas tenho consciência dos problemas. A parada é um dia para os meios de comunicação discutirem, coisas boas os avanços e as coisas ruins também (muitas) Quem sabe um dia as notícias boas sejam maioria ;)


Fica a frase de Marília Gabriela ao entrevistar Jean Wyllys. falando sobre o preconceito, disse: 

“As pessoas acham que na violência, se eu der um tapão ali,ou  se eu der um tiro aqui. Eu vou matar isto que me perturba, com o qual eu não sei lidar. Na minha sexualidade em particular.”

Certíssima.

sábado, junho 25, 2011

Memória - Carlos Drummond de Andrade

Amar o perdido
Deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensiveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas
Essas ficarão.



sábado, junho 04, 2011

Tempos Modernos - Lulu Santos



Eu vejo a vida
Melhor no futuro
Eu vejo isso
Por cima de um muro
De hipocrisia
Que insiste
Em nos rodear...

Eu vejo a vida
Mais clara e farta
Repleta de toda
Satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão...

Eu quero crer
No amor numa boa
Que isso valha
Pra qualquer pessoa
Que realizar, a força
Que tem uma paixão...

Eu vejo um novo
Começo de era
De gente fina
Elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim
Do que não, não, não...

Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir...

Eu quero crer
No amor numa boa
Que isso valha
Pra qualquer pessoa
Que realizar, a força
Que tem uma paixão...

Eu vejo um novo
Começo de era
De gente fina
Elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim
Do que não...

Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
E não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há prá viver
Vamos nos permitir...

E não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir..
.

>> Lulu é um chato, mas ele compõe de uma forma única, o cara é ímpar, letra e melodia. Muito bom. Quem disse que tem que ser legal para ser bom, né? rs

sexta-feira, maio 27, 2011

HOJE EU QUERO SAIR SÓ - Lenine

Se você quer me seguir
Não é seguro
Você não quer me trancar
Num quarto escuro
Às vezes parece até
Que a gente deu um nó
Hoje eu quero sair só...
Você não vai me acertar
À queima-roupa
Vem cá, me deixa fugir
Me beija a boca
Às vezes parece até
Que a gente deu um nó
Hoje eu quero sair só...
Não demora eu tô de volta
Vai ver se eu tô lá na esquina
Devo estar!
Já deu minha hora
E eu não posso ficar
A lua me chama
Eu tenho que ir pra rua
A lua me chama
Eu tenho que ir pra rua...
Hoje eu quero sair só!
Hoje eu quero sair só!
Hoje eu quero sair só!
---------------------------------------
AMO essa música, aliás adooro Lenine. Ouvi o acústico dele a semana toda... larguei um pouco o rádio.

domingo, maio 22, 2011

Soneto - Chico Buarque

Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo 

Por que me incendiaste de desejo 
Quando eu estava bem, morta de sono 

Com que mentira abriste meu segredo 
De que romance antigo me roubaste 
Com que raio de luz me iluminaste 
Quando eu estava bem, morta de medo 

Por que não me deixaste adormecida 
E me indicaste o mar, com que navio 
E me deixaste só, com que saída 

Por que desceste ao meu porão sombrio 
Com que direito me ensinaste a vida 
Quando eu estava bem, morta de frio 

sexta-feira, maio 13, 2011

O Poeta está vivo - Barão Vermelho


Baby, compra o jornal
E vem ver o sol
Ele continua a brilhar
Apesar de tanta barbaridade...
Baby escuta o galo cantar
A aurora dos nossos tempos
Não é hora de chorar
Amanheceu o pensamento...
O poeta está vivo
Com seus moinhos de vento
A impulsionar
A grande roda da história...
Mas quem tem coragem de ouvir
Amanheceu o pensamento
Que vai mudar o mundo
Com seus moinhos de vento...
Se você não pode ser forte
Seja pelo menos humana

Quando o papa e seu rebanho chegar
Não tenha pena...
Todo mundo é parecido
Quando sente dor
Mas nú e só ao meio dia
Só quem está pronto pro amor...
O poeta não morreu
Foi ao inferno e voltou
Conheceu os jardins do Éden
E nos contou..
.
;*