Trecho de “Amores Interrompidos”
“No entanto, lá no final do livro, quando a relação do casal se limita apenas a uma amizade distante, Beauvoir recupera o tino e escreve coisas interessantes sobre o amor, em especial na carta em que ela consola o amigo por ter sido chutado por uma namorada. Ela disserta sobre a melhor maneira de se enfrentar um rompimento. Naturalmente, a conclusão é que é sempre preferível viver a história até o seu desfecho natural, ou seja, até o desaparecimento do amor, mas dificilmente isso acontece em sincronia. Entre um casal que se separa, há sempre aquele que acaba sendo vítima de um choque emocional, decorrente da violência que é obrigar-se a matar um sentimento que dentro de si permanece vivo.
Simone de Beauvoir especula que a sensação de perda e a nostalgia do passado costumam durar mais tempo que a própria relação teria durado. É bastante interessante esta teoria: a de que as dores-de-cotovelo duram mais do que o próprio amor, caso este houvesse completado seu ciclo.
Ainda citando Beauvoir, ela diz que a gente se torna mais dependente de um amor quando ele termina, do que enquanto ele dura. Eu não tenho muito a acrescentar, e sim a corroborar. Enquanto estamos vivenciando um amor, não teorizamos a respeito. Só a partir da ruptura é que fazemos um inventário dos ganhos e das perdas, e, por estarmos emocionalmente fragilizados, acabamos por superdimensionar nossa solidão involuntária.
Do que se conclui que o único remédio para a dor de amor é aceitar que as coisas vêm e vão, e que isso é que movimenta a vida. O duro é ter que pensar nisso quando o amor ainda parece que só vai.”
Martha Medeiros